O mito de Eros e Psique

terça-feira, 14 de julho de 2015

[CONCERNENTE AO EU

 1: Quem é Ele que adoramos, pensando: "Este é o Eu?" "Qual é o único Eu?" É Ele quem vê uma forma, por quem ouve um som e por quem sente o sabor doce e não doce? 

2: Ele é o coração e a mente. Ele é consciência, proprietário, conhecimento, sabedoria, o poder retentor da mente, o conhecimento do sentido, firmeza, no entanto, reflexão, tristeza, memória, conceitos, finalidade, vida, desejo, saudade: tudo isto são apenas vários nomes da Consciência (Prajnanam). 

3: Ele é Brahman, ele é Indra, Ele é Prajapati; Ele é todos esses deuses; Ele é os cinco grandes elementos – terra, ar, akasa, água, luz; Ele é todas estas pequenas criaturas e as outras que estão misturadas; Ele é a origem – os nascidos de um ovo, de um útero, do suor e de um rebento; Ele é cavalos, vacas, seres humanos, elefantes – o que respira aqui, o que se move sobre as pernas ou voa no ar ou não se móvel. Tudo isso é guiado pela Consciência, é suportado pela Consciência. A base é a Consciência. Consciência é Brahman (Prajnanam Brahma). 

4: Ele, tendo realizado a unidade com a Consciência Pura, elevou-se deste mundo e, tendo obtido todos os desejos no mais distante mundo celestial, torna-se imortal – certamente, torna-se imortal. -Rig Veda ]
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Antes da analogia propriamente dita, é necessário esclarecer que "psique" é uma palavra derivada do verbopsýkhein, que significa soprar, respirar. Etimologicamente, "psique" significa sopro vital, vida, essência ou personificação do princípio da vida, princípio que anima o universo.
O mito de Eros e Psique é de origem grega e foi descrito por Lúcio Apuleiro (150 d.C.) no romance "Metamorfoses". O texto que segue é baseado nas obras de Brandão (1988) e Bulfinch (2000), encontrado no "Livro de Ouro da Mitologia" e em "Mitologia Grega, v.2".
Psique era uma linda princesa que tinha duas irmãs. Todas elas eram belíssimas e causadoras de muita admiração, assim, muitos vinham de longe apenas para vê–las. Psique, no entanto, era a mais nova e a mais bela. Com o passar do tempo, a linda ninfa começou a ser cultuada como própria encarnação de Afrodite, provocando, por isso, o esvaziamento dos templos da deusa. Cheia de ódio, Afrodite resolveu castigá–la, convocando seu filho Eros para mais uma missão: "Vês aquela audaciosa beleza? Vinga sua mãe das injúrias recebidas. Infunde no peito daquela donzela uma paixão por algum ser baixo, indigno de sorte, que ela possa colher a grande mortificação" (Bulfinch, 2000, p.101).


As duas irmãs mais velhas de Psique, não tão belas, já haviam se casado com príncipes. Psique, no entanto, sendo ainda mais encantadora, além de extremamente graciosa, não conseguia um marido para si, pois todos temiam tamanha beleza. Vivia, portanto, em seus aposentos, amargando uma deplorável solidão. Seus pais, desorientados, foram buscar ajuda do oráculo de Apolo. Ao questionarem sobre o futuro da filha, receberam como resposta que Psique não foi destinada a ser esposa de um mortal, e, segundo ele, seu marido a esperava no alto da montanha. Assim, foram instruídos pelo oráculo a vestirem–na com roupas próprias de casamento e a deixá–la no alto de um rochedo onde um monstro horrível iria buscá–la.
O rei e a rainha se encheram de desânimo e entraram em desespero. Indagavam, entre eles, o triste fim para a tão bela e jovial filha. Psique, corajosa e certa de seu destino, disse a eles: "Por que lamentais, queridos pais, resigno–me ao meu fim, levai–me àquele rochedo a que me destinou meu desventurado destino" (Bulfinch, 2000, p.101). Obedecendo à profecia do oráculo, seus pais deixaram–na no alto de uma montanha. Tremendo de medo e sozinha no topo, a moça logo adormeceu.
Tudo estava de acordo com o que Afrodite havia planejado. Eros se aproximou para completar mais uma de suas missões. Não obstante, ao se deparar com tamanha beleza e formosura da mortal, ficou perturbado e feriu–se com sua própria seta, apaixonando–se no mesmo instante. Encantado, Eros mandou que Zéfiro (vento) conduzisse a bela que estava adormecida até seu palácio. Ao despertar, Psique se viu num maravilhoso castelo de ouro e mármore. Maravilhada com o lugar, percebeu que ali tudo era mágico. As portas se abriam para ela, vozes sussurravam a respeito de tudo o que precisava saber. Servos invisíveis cercavam–na e tudo faziam para agradá–la.
Já era noite quando a bela voltou aos seus aposentos, deitou–se e, na mais total escuridão, percebeu, ao seu lado, a presença de alguém. Pensou ela que só poderia ser o seu esposo predestinado pelo oráculo. Naquela noite, Eros desposou–a com muita delicadeza e profundo amor. Advertiu–a de que seria o melhor dos maridos, mas que ela jamais poderia vê–lo, pois isso significaria perdê–lo para sempre. Psique, encantada pela noite de amor, concordou de imediato. Assim foram seus dias. A moça tinha tudo que desejava. Seu marido lhe dava a sensação do mais profundo amor e era extremamente carinhoso. Psique a cada dia o amava mais.
Com o passar do tempo, porém, ela começou a sentir saudade de seus pais e pediu permissão ao marido para visitá–los. O deus, através de sua onisciência, advertiu de que essa viagem traria péssimas conseqüências. No entanto, Psique suplicou–lhe permissão, argumentando não ter ninguém para falar ou ver durante o dia. Apaixonado, Eros não resistiu às súplicas e, mesmo correndo o risco de perdê–la, concedeu–lhe a graça de ver sua família. Zéfiros, da mesma forma que a havia conduzido ao palácio, levou3a ao reino de seus pais.
Psique, recebida com muita alegria, distribuiu muitos presentes a todos. Suas irmãs, ao verem–na tão bem, encheram–se de inveja e começaram a crivá–la de perguntas acerca do marido. Psique, inocentemente, contou–lhes que nunca tinha visto sua fisionomia. Essa resposta foi suficiente para que suas irmãs enchessem–na de medo, relembrando a história do oráculo que dizia ser seu marido um horrendo mostro. Por fim, convenceram–na de desmascará–lo ao contar que os camponeses e caçadores da região viam todas as noites, atravessando o rio vizinho em direção ao palácio, um monstro que, certamente, era o marido de Psique, e que apenas aguardava o momento oportuno para devorá–la, bem como a criança que esperava em seu ventre. Por essa razão, aconselharam–na que depois do pôr–do–sol ela deveria iluminar, cuidadosamente, o rosto da terrível criatura e, com um só golpe, cortar–lhe a cabeça antes que fosse devorada.
Evidentemente que a intenção de suas irmãs era apenas prejudicar Psique, já que ela havia feito a promessa a seu esposo e, se a mesma fosse quebrada, conseqüentemente, seu casamento também seria. No retorno para casa, transtornada, apavorada e sozinha, a curiosidade e o medo tomaram conta do coração humano da donzela; as histórias contadas por suas irmãs surtiram efeito.
Tão logo veio a noite, tomada pelas influências das duas princesas, Psique esperou que Eros adormecesse para acender uma vela e assim poder vê–lo. Surpreendentemente, ao se deparar com tão linda figura, perdeu–se em sonhos e ficou parada embevecida, admirando–o. Foi nesse instante que um pingo de cera fervente caiu sobre o peito de seu marido antes oculto, despertando–o bruscamente em razão da dor e da queimadura, que produziu uma grande ferida.
Decepcionado e magoado com a quebra da promessa da esposa, partiu, fazendo cumprir sua promessa de outrora. Abandonada por Eros, sentindo a dor da perda do amor que havia desperdiçado, ficou profundamente infeliz. Psique, desesperada, atirou–se nas águas de um rio, que a devolveu ao solo. Então, passou a caminhar dia e noite sem repouso nem alimento, à procura do marido.
Aconselhada por Pã (deus dos rebanhos e dos pastores) a enfrentar as dificuldades de maneira produtiva, a princesa decidiu recuperar seu amado, tentando ultrapassar o ódio de Afrodite. Dirigiu–se à presença da deusa e, de forma humilde, modesta e submissa, pediu seu perdão. Afrodite, depois de torturá–la e insultá–la, infligiu a ela quatro missões, consideradas humanamente impossíveis. Psique, depois de suportar todas as torturas, aceitou as provas propostas com intuito de recuperar a vida e o amor de Eros.
Sua primeira prova foi separar por espécies, em uma única noite, milhares de grãos misturados em um enorme monte. A bela moça, diante de tão difícil tarefa, pôs–se a chorar de desespero e agonia, já que não haveria tempo suficiente para realizar tal missão. A solução foram as formigas que, vendo seu desespero, resolveram ajudá–la. Trabalhando incansavelmente, haviam cumprido a tarefa já ao anoitecer, sem maiores dificuldades.
A segunda prova que teria de realizar era trazer flocos de lã, polvilhados de ouro, pertencentes a ovelhas selvagens, agressivas e carnívoras. Disposta a fazer o que estivesse ao seu alcance, a bela foi à margem do rio a fim de jogar–se nele e alcançar a outra margem. Porém, o rio deus inspirou os juncos e plantas ribeirinhas a murmurarem súplicas para que ela não desafiasse a correnteza do rio e não enfrentasse os temíveis carneiros venenosos, enquanto o sol estivesse a pino. Aconselharam–na, então, a voltar ao anoitecer, pois o rebanho estaria recolhido e o espírito sereno do rio já estaria presente, assim poderia atravessá–lo com tranqüilidade e poderia pegar os muitos flocos de lã que permaneceriam presos à vegetação e, desse modo, ela poderia completar sua prova com segurança. E assim o fez. Logo depois, voltou à presença de Afrodite com o avental repleto de lã de ouro.
Afrodite, repleta de fúria com o sucesso de sua "nora", ordenou, como terceira prova, que buscasse as águas sagradas e escuras dos rios infernais. Ao mesmo tempo em que eram as mais perigosas da região, as águas alimentavam o rio infernal, guardado por dois dragões. Psique deveria encher um recipiente de cristal, depois de enfrentar os terríveis guardiões da fonte. Dessa forma, a esposa de Eros foi em direção à fonte, escalou com muito custo a montanha e viu então os dois enormes dragões rastejando sobre as pedras a cuidar da fonte. Essas criaturas jamais deixavam de vigiar as águas sagradas.
Diante da impossibilidade da realização da prova, ficou petrificada e com medo. Pensou em se matar. No entanto, Zeus, comovido, lembrou–se da grande ajuda de Eros há tempos e resolveu ajudá–la. Enviou–lhe sua águia que, tomando a jarra pelo bico, num vôo rápido, passou entre os dragões, encheu o recipiente de água e o devolveu a Psique. Ela, cheia de esperanças, voltou humildemente ao encontro de Afrodite para lhe entregar o jarro com água.
Finalmente, sua última prova, a mais difícil, era ir até Perséfone, no reinado de Hades, deus das profundezas do inferno, e pedir um pouco de juventude e beleza eterna, em nome da mãe de Eros. Psique, certa de seu fim, já que a única maneira de chegar às profundezas do inferno era por meio da morte, subiu ao alto de uma torre com o propósito de se atirar. A Torre, porém, falou com mansidão à Psique para que não recuasse ante a prova derradeira. Deu–lhe ânimo e instruiu–a acerca do caminho mais curto para atingir o mundo dos mortos, explicando–lhe, ao mesmo tempo, as precauções que deveria tomar na longa caminhada pelas trevas. Depois de ouvir com atenção as advertências da Torre, a moça foi adiante e entrou numa cavidade do chão, onde se encontrava a planície do palácio de Hades. Psique não podia ir de mãos vazias devido aos obstáculos que encontraria ao longo do percurso, por isso, levou na boca dois óbolos (moedas gregas) e em cada mão um bolo de cevada e mel. Além disso, teria de tomar muito cuidado, pois encontraria pelo caminho algumas tentações.
A primeira delas foi no meio do caminho. Era um homem que lhe pediu ajuda para apanhar alguns gravetos, lembrou–se, porém, da admoestação da Torre; não lhe deu ouvidos e seguiu seu caminho. Ao chegar no rio dos mortos, encontrou o barqueiro Caronte, a quem entregou as moedas que garantiriam sua passagem de ida e volta. No meio da travessia, Psique defrontou–se com a segunda tentação: um velho que lhe havia implorado ajuda para subir no barco. Entretanto, conforme as recomendações da Torre, não se deixou vencer pelo sentimento de piedade ilícita. Terminada a viagem de barco, avistou, à sua frente, o castelo, cujo guardião era um cão de três cabeças, o Cérbero. De acordo com as determinações da Torre, deu a ele um dos bolos para poder entrar e o outro guardou para a saída.
No interior do castelo, encontrou a terceira tentação; algumas velhas tecedeiras solicitaram sua ajuda, no entanto, não lhes deu atenção. Já no salão do palácio, a moça se deparou com Perséfone, que lhe ofereceu uma deslumbrante cadeira para descansar e iguarias apetitosas para saciar sua fome. A princesa recusou tudo, pois sabia que era mais uma das seduções. Por isso, sentou–se no solo e pediu apenas um pedaço de pão preto, e expôs a razão de sua visita. Depois de receber o pacote, voltou pelo mesmo caminho, passando, novamente, por todas as tentações, lembrando–se que dependeria somente dela curar e reencontrar Eros, seu grande amor.
Ao sair vitoriosa do mundo das trevas, uma grande curiosidade lhe assaltou o espírito. Para isso ela não havia se preparado, isto é, não esperava pela última, inesperada e pior das tentações. A Torre, sabiamente, aconselhou que não abrisse a caixa, em hipótese alguma. No entanto, sem conseguir dominar sua curiosidade humana, desejava saber qual era o segredo da juventude eterna. Sem esperar, abriu a caixa de Perséfone e caiu em sono profundo.
Eros, já quase recuperado de seu ferimento, foi encontrar sua amada, pois estava cansado de vê–la sofrer e passar por tantas provações. Chegando lá, após retirá–la do sono da morte, explicou como sua curiosidade poderia tê–la levado ao fim. Mesmo assim, o deus pediu que concluísse sua tarefa. Psique levantou–se e, cuidadosamente, levou a caixa para Afrodite, completando, com isso, todas as provas ordenadas por ela.
Finalmente, Eros implorou a Zeus, o deus dos deuses, que tivesse compaixão dos dois e do amor entre eles, e solicitou uma permissão especial para que pudessem se unir, pois até então os deuses do Olimpo nunca puderam se casar com mortais. Benevolente, Zeus advogou com muito empenho a favor dos enamorados e conseguiu consentimento dos outros deuses, até mesmo de Afrodite, para a união do casal. Psique foi chamada ao Olimpo para a assembléia celestial. Lá recebeu a benção de Zeus que também lhe concedeu a imortalidade.

Eros e Psique permaneceram juntos por toda a eternidade. Tiveram apenas uma filha, Prazer. Na linguagem dos mortais, chama–se Volúpia, que significa prazer dos sentidos e das sensações.

Fonte -  
Eros e Psique

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